A porta para uma literatura nova e poderosa

A literatura portuguesa mostra uma força excecional, que foi sendo construída ao longo dos séculos e marca hoje uma das mais diversas correntes literárias europeias com autores excecionais, cuja obra – 21 para o século XXI – está também selecionada na antologia élfica da literatura portuguesa contemporânea, intitulado A luz do sol calada – Sol silencioso.


A antologia da literatura portuguesa será decorada com a Porta da Estação pintada por Manuel Amado (1938-2019) em 1986.

A literatura portuguesa na grande família das literaturas nacionais da Europa (até onde ainda podemos falar de literaturas nacionais) situa-se num dos extremos do continente europeu e aí permanece muitas vezes longe da consciência de muitos leitores eslovenos, com o exceção dos conhecidos gigantes da literatura portuguesa e mundial, como Luís de Camões, Fernando Pessoa e o Prémio Nobel da Literatura José Saramago.

O editor e coeditor esloveno abaixo assinado são responsáveis ​​pela seleção de obras de 21 autores, o que representa um entrelaçamento dinâmico de estilos e gêneros artísticos. Ricardo Marques, poeta português, Doutor em Ciências Literárias e grande amigo da cultura eslovena, com quem quisemos apresentar aos leitores eslovenos as vozes mais frescas da literatura portuguesa do momento, mas também os mais importantes atores do desenvolvimento e criação literária das últimas décadas em solo português. Ao compilar a antologia, reconhecemos muitas afinidades entre a literatura e a cultura eslovena e portuguesa; ambas as sociedades se percebem como uma nação de literatos, às vezes se sentem muito pequenas ou mesmo limitadas no cânone da cultura europeia, mesmo que tragam uma literatura fresca e poderosa. Ao fazê-lo, não se deve esquecer as muitas peculiaridades que unem as duas nações, por exemplo, a pronúncia quase impecável dos sons do alfabeto esloveno por amigos portugueses, a ligação indireta da melancolia centro-europeia com o português para os sauditas (mesmo que este tenha mais uma torção), considerável afinidade de corrente com acento circunflexo, a cultura do café e a casta do vinho, bem como uma visão do mundo exterior e do mar, que tem uma conotação ligeiramente diferente para os portugueses do que para os eslovenos. As semelhanças e as diferenças enriquecem sempre os dois lados, e é a dualidade (ou talvez no nosso caso, a dualidade) que caracteriza a cultura e a alma portuguesas, que também se encontra metaforicamente dividida entre tradição e modernidade.

Em Portugal, onde se conhece uma certa saudade do passado ou dos vestígios da tradição, que o capitalismo infelizmente enterrou há muito tempo, a lei do triplo F – fado, futebol, Fátima – já não vigora há muito tempo. (ainda que seja preciso admitir que o slogan em alguns casos não pode passar despercebido) – já que o país e a sua cultura voltam a abrir-se amplamente ao mundo exterior e a aprofundar o carácter português fresco mas culturalmente reconhecível para o mundo interior. Hoje, a língua portuguesa é considerada a terceira língua materna mais falada na Europa e, incluindo as ex-colônias, a literatura portuguesa parece ser um importante mediador entre diferentes culturas e tendências literárias. Isso também está bem refletido na capa da atual antologia, que é obra de um artista português Manuel Amado – sua foto A porta da estação (A Porta da Estação, 1986) conduz os leitores pelas entrelinhas e versos que hoje constroem a literatura portuguesa contemporânea. Com as excelentes traduções do esloveno, convido-o a passar por esta porta, mergulhar na seleção da literatura portuguesa contemporânea e deixar-se levar pelos extremos, a abertura do oceano de um lado e a clausura do velho continente do outro , que trazem todos os insights necessários para a distância e possivelmente para o desconhecido.

Trecho do posfácio; Aljaž Koprivnikar é o co-editor esloveno da antologia.


Paulino Leitão

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