Macron e Scholz não quiseram explicar os problemas no trem franco-alemão



Macron e Scholz não quiseram fazer declarações à imprensa após a reunião. Foto: Reuters

O almoço de trabalho, organizado por Macron, foi, segundo analistas, uma tentativa de melhorar as relações entre os principais aliados europeus e reiniciar o motor franco-alemão, já que as relações entre os dois países foram marcadas por divergências de opinião no período recente. Os líderes não fizeram declarações à imprensa após a reunião, mas depois Scholz foi ao Twitter e um comunicado de imprensa foi enviado do Palácio do Eliseu.

“Tivemos uma boa e importante conversa sobre o fornecimento de energia da Europa, aumento de preços e projetos conjuntos de armamentos. Alemanha e França estão juntas e enfrentam os desafios”, disse. Scholz twittou após a reunião. A delegação alemã acrescentou que a reunião foi intensa e orientada para os parceiros, com os dois líderes partilhando a mesma opinião sobre as principais direções.

O Palácio do Eliseu anunciou que a conversa foi construtiva e levou à criação de grupos de trabalho para as áreas de energia, defesa e inovação.

Mesmo antes da reunião, o porta-voz do governo francês Olivier Veran tentou minimizar a tensão, dizendo que o casal franco-alemão sempre soube superar os problemas que surgem de tempos em tempos. “O encontro de hoje é um sinal de que essa amizade continua viva”, Veran explicou.

A reunião em Paris foi convocada às pressas depois que Macron cancelou uma reunião conjunta dos governos dos dois países na semana passada, segundo algumas fontes, devido a posições divergentes sobre questões de energia e defesa. Em Berlim, o cancelamento da reunião conjunta foi explicado pela necessidade de coordenação adicional em algumas questões bilaterais, enquanto no Palácio do Eliseu enfatizaram que o cancelamento da reunião não diz nada sobre o estado das relações franco-alemãs.


Os governos dos dois países deveriam se reunir hoje, mas adiaram a reunião para janeiro.
Os governos dos dois países deveriam se reunir hoje, mas adiaram a reunião para janeiro. “O atraso não reflete de forma alguma o estado atual das relações franco-alemãs”, disse o Palácio do Eliseu sobre o adiamento. Foto: Reuters

Diferenças em defesa e energia

Mas há mais questões em aberto entre os dois países, porque em Paris eles não estão satisfeitos com o comportamento da Alemanha na crise energética, e também ficaram incomodados com o plano alemão de estabelecer uma defesa aérea europeia com outros 14 países, sem contar a França.

A França, que está desenvolvendo o projeto de defesa aérea Mamba com a Itália, condenou a ESSI e criticou a “corrida armamentista” no continente. Outro ponto de discórdia entre os dois países é a produção de uma nova geração de aviões de combate europeus, na qual o projeto concorrente britânico Tempest também pode assumir um papel de liderança.

As diferenças ficaram evidentes na cúpula da União Europeia da semana passada, quando Macron alertou sobre o isolamento da Alemanha, que se opõe a um teto de preço da gasolina e elaborou um plano de € 200 bilhões para ajudar empresas e famílias atingidas pelos altos preços da energia. A França não foi notificada com antecedência sobre a medida, segundo a Reuters, o que é uma prática incomum, já que uma quantidade tão grande pode ter um grande impacto nos mercados.

A preparação da visita de hoje também não foi sem complicações. O lado alemão anunciou inicialmente que os dois líderes teriam uma declaração conjunta, mas depois anunciaram em Paris que a entrevista coletiva não estava marcada.

“Os dois líderes continuarão as discussões sobre assuntos das áreas de defesa, economia e energia com o objetivo de fortalecer a cooperação franco-alemã”, anunciaram antes da reunião do Palácio do Eliseu.


Scholz recebeu Macron em Berlim no início de outubro.  Foto: Reuters
Scholz recebeu Macron em Berlim no início de outubro. Foto: Reuters

Uma fonte não identificada próxima ao presidente francês confirmou à agência de notícias francesa AFP que as disputas entre os dois países, que muitas vezes têm interesses diferentes, não são incomuns.

Alexandre Robinet-Borgomano, especialista em política alemã do think-tank francês Institut Montaigne, disse que a relação franco-alemã é muitas vezes marcada por períodos de frieza e tensão, que logo são seguidos por um degelo.

Na última cimeira de dirigentes da União Europeia, os dois dirigentes demonstraram vontade de reforçar as relações bilaterais, tendo Macron afirmado que esta reunião permitiu esclarecer muitas coisas e que era perfeitamente normal que nem sempre tivessem as mesmas opiniões.

França vai construir gasoduto com Espanha e Portugal

Na última cúpula do Conselho da UE, o presidente francês Macron anunciou a construção de um gasoduto entre Barcelona e Marselha, juntamente com Espanha e Portugal. Com isso, enterraram a ideia do gasoduto Midcat, que ligaria Espanha e França sob os Pirenéus e do qual a Alemanha também esperava energia.

Macron e Scholz suavizaram relações entre Paris e Berlim

Brás Monteiro

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