Vitória tranquila da balada portuguesa, Eslovénia em último lugar

O menino, que de longe se parece com o nosso melhor jogador de hóquei Anže Kopitar, após anunciar os resultados, disse num comunicado emocionado que foi uma vitória da música com conteúdo, com emoções. Claramente, ele estava se referindo às apresentações que temos visto nos últimos anos em espetáculos primorosamente organizados, que lembram mais bailes de máscaras e circos do que apresentações musicais. Compôs uma canção simples, mais próxima dos evergreens dos anos 50 do que dos dançarinos que têm vencido os festivais da Eurovisão nos últimos anos, e cantou-a em português. É também por isso que a sua vitória, comparada com dezenas que tentaram compor nos últimos anos no já tradicionalmente quebrado inglês, vale muito mais. Poderíamos até dizer que significa uma espécie de avanço no desenvolvimento dos festivais.


Sobral, de 27 anos, que apareceu no reality show musical português Ídolo em 2009 e até agora só lançou um álbum e dois pequenos sucessos, chamou ainda mais atenção para si mesmo do que para a sua música com uma aparição na televisão em que vestia uma t-shirt com a inscrição SOS Refugiados, segundo o nosso Vamos ajudar os refugiados, pelo que os organizadores até o repreenderam. Sobral defendeu-se que não se tratava de um slogan político, mas humanitário. Sim, o jovem músico está indo bem, obviamente ele se sairá muito bem no mundo da música global. No final, ele conseguiu convencer os organizadores de que é um paciente cardíaco tão grave que sua irmã, que, aliás, escreveu a letra da música, tem que se apresentar em seu lugar nos ensaios.

Mas mais do que a t-shirt de Sobral, parece ser uma decisão política dos trabalhadores da Eurovisão, ditada pelas autoridades ucranianas, que a representante russa Yulia Samoylova não foi autorizada a actuar em Kiev. Via satélite, isso ainda funcionaria, ao vivo, mas não na capital da Ucrânia. O serviço secreto ucraniano solicitou a proibição da apresentação porque o vencedor da competição preliminar russa em 2015 entrou “ilegalmente” na Crimeia e se apresentou lá. Embora Samoylova só tenha cantado na Crimeia e não tenha sido baleada, Samoylova é uma pessoa inofensiva com atrofia muscular e está em cadeira de rodas desde a infância. O Comité Russo da Eurovisão já anunciou que Samojlova cantará Flame is Burning na próxima competição, que aparentemente será em Lisboa. Aliás, surge a questão de saber o que acontecerá se a seleção ucraniana de futebol se classificar para a Copa do Mundo de 2018, na Rússia. E se não os deixarem atravessar a fronteira e se vingarem das autoridades ucranianas desta forma?

E o nosso? O representante da Eslovênia, Omar Naber, sempre teve avaliações muito ruins nas casas de apostas e, como era de se esperar, não ficou entre os 26 primeiros nas preliminares de terça-feira. Com as declarações do cantor de que somos muito pequenos, que não temos amigos suficientes para votar em nós, que não há dinheiro para uma promoção real, mas não se deve esquecer que a Eslovénia costuma ter hipóteses reais de chegar à final rodada (mas não até o topo) se tiver uma composição e autores fortes e reconhecíveis ou uma equipe que também tente ter ideias. Há dois anos, digamos o dueto Maraaya, antes disso Sestre, Nuša Derenda… Ou seja, no concurso da Eurovisão é preciso fazer algo especial para ser notado. Desta vez a Eslovénia não teve isso (de novo). Entre as 42 músicas, apenas San Marino e Letônia obtiveram menos pontos.


Estela Costa

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